No dia 25 de maio foi ao ar através do podcast “Falando sobre isso” uma entrevista com a psicóloga Paloma Colins para falar sobre abuso sexual infantil e os danos psicológicos causados pelo abuso.
O podcast lembrou a data 18 de maio, dia nacional do combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. A data relembra o dia do rapto da menor Araceli Cabrera Sanchez Crespo, de 9 anos, na cidade de Vitória no Espirito Santo.
Filha de uma colombiana e uma espanhol, Araceli foi raptada no dia 18 de maio de 1973, após sair da escola. A menina estava esperando ônibus que tomava para voltar pra casa em frente a um bar e enquanto brincava com um gato houve o rapto.
Durante os próximos dias Araceli seria violentada sexualmente e drogada por seus raptores. O então “desaparecimento” de Araceli só teria um fim no dia 24 de maio quando um menino achou um corpo totalmente destruído atrás de um hospital. Araceli foi identificada pelo próprio pai que reconheceu a marca de nascença que a filha caçula tinha em uma das pernas. A menor morreu por intoxicação por tóxicos e pelos abusos sexuais.
Réus dos crimes, Dante Brito Michelini, Dante Barros Michelini e Paulo Helal foram absolvidos no segundo julgamento que ocorreu em 1991.
Em 2023 o caso Araceli completa 50 anos e continua tão atual, infelizmente nos dias de hoje.

Confira a entrevista com a doutora Paloma Colins
- As vitimas de abuso sexual infantil podem apresentar alguns sinais de comportamento que sirva de alerta para a possibilidade de terem sido abusadas? se sim, quais?
Todo o evento que acontece na vida da pessoa, há sinais que nós podemos estar atentos , ainda mais quando se trata de um abuso sexual que é um evento impactante, provável que haja mudanças no comportamento. Então quando falamos de crianças e adolescentes a um quase que certeza da mudança de comportamento pelo grau de gravidade que ocorreu o abuso. Então os sinais principais são:
Essa criança tinha um perfil de extroversão, agora essa criança está introvertida, praticamente isolada. A pergunta é: o que aconteceu para essa mudança de comportamento? nós psicólogos, principalmente a área que eu acredito que é análise de comportamento, ela tem um lema, que é a chave e que faz muito sentido para mim, as pessoas chegam na terapia e falam “Ah porquê eu estou sentido isso e não entendo. Do nada eu estou assim.”
Opa, nada é do nada. Os comportamentos eles acontecem por alguma situação anterior e talvez a pessoa ainda não conseguiu identificar. Então o que eu quero dizer basicamente é que como nada é do nada o comportamento também não muda do nada. Então qual é o perfil da minha criança? qual é o perfil do meu adolescente? Eu preciso estar atenta sobre essa mundança.
Comportamentos de regressão, essa criança não fazia mais xixi na cama e agora passou a fazer e eu não estou falando de maneira isolada. Apenas uma vez mas agora de forma frequente. A criança já dormia sozinha no quarto dela e agora quer insistentemente voltar pro quarto dos pais, o que aconteceu que agora tem tanto medo presente?. Esses pesadelos que também podem acontecer, qual é o conteúdo? qual é o medo? com qual frequência tem acontecido? Também em relação a própria questão de vestimenta essa criança gostava de roupas mais coloridas e chamativas e agora só roupas com tons mais escuros que cobrem mais o corpo. Precisamos ficar atentos as nossas crianças e aos nossos adolescentes, se houve uma mudança comportamental eu preciso estar atenta pode ser um sinal de abuso ou uma questão da própria?. Como cuidador quando eu conheço e fico atento eu preciso e tenho que ser um suporte para esse meu cuidado. Que eu possa servir de referência para essa criança tiver passando por uma situação dessas ver em mim uma pessoa confiável.
2. Quais são os efeitos até longo prazo do abuso sexual infantil?
Quando nós falamos sobre comportamento humano nós não temos um determinismo. Eu não posso te afirmar “Lane essa pessoa não vai mais se relacionar afetivamente e sexualmente. Eu não posso afirmar mas provavelmente nessa área de relacionamentos é possível que tenha uma dificuldade, essa iniciação, essa manutenção. Dos casos que eu atendo, recentemente eu atendi um caso em que a pessoa tem esse histórico e que por muito tempo negou o fato de ter sido abusada e iniciou sua vida afetiva mas que agora devido a outro evento em sua vida se deu conta e percebeu a gravidade do abuso e não está conseguindo manter relações.
Olha como não adianta a gente procrastinar ou evitar esse sentimento de dor deve-se ter o cuidado para que tenha o enfrentamento e a superação dessa marca.
Dos efeitos a longo prazo comumente das pessoas que viveram e foram abusadas é na parte afetiva e na parte sexual (…) pode afetar na auto estima, na confiança com as pessoas como por exemplo se o abusador foi alguém da família, alguém que eu poderia confiar, eu posso confiar em outras pessoas.
3. Existem fatores que podem impactar ainda mais o abuso? Como casos em que o(a) abusador é alguém próximo.
Infelizmente é uma temática que as vezes nós evitamos falar para os nossos filhos, sobrinhos e todos a nossa volta, mas infelizmente é um assunto que é real. Então nesse sentido os fatores que mais podem impactar é a própria questão da proximidade. Pensar que o cuidador, o pai, a mãe, o avô, a avó, estão ali como pessoas que estão responsáveis pelo meu cuidado mas que essas pessoas que cometeram essa violência contra (…) Então é o principal fator que impacta o abuso, fora as marcas físicas que podem vir a acontecer.
4. O que o(a)s psicólogos devem fazer após comprovar que houve o abuso sexual infantil?
Vamos dizer então que essa família traga, essa criança, esse adolescente para o atendimento devido a uma percepção da mudança de comportamento pode-se imaginar que nesses casos os pais não são os abusadores, se não eles não o(a) levariam para a terapia, para o acompanhamento.
Então essa criança, esse adolescente vindo para a terapia, para o acompanhamento nós iremos investigar a mudança do comportamento e e acordo com o acompanhamento psicológico e se for comprovado que houve o abuso através do próprio relato da criança e do adolescente ou através até de exames que podem vir ser solicitados. O profissional vai ter que conversar com os pais através do acontecido, orientar quais os procedimentos deverão ser feitos e os pais também deverão estar em acompanhamento psicológico e muito provavelmente com outro profissional e não o mesmo que está atendendo a criança para que não possa atrapalhar a questão de vinculo. Também orientar os pais sobre a garantia de direitos que essa criança tem.
Lembrando que não apenas os pais ou os responsáveis por aquela criança que devem denunciar o abuso, mas sim que qualquer pessoa que desconfie que o menor foi abusado que entre em contato com o conselho do tutelar da sua cidade ou ir a delegacia mais próxima.
Ouça a entrevista na integra: https://open.spotify.com/episode/1B7RIJIWXSKdi02hc8Dp0P